
O desporto rei do mundo automóvel oferece-nos muito mais do que entretenimento a alta velocidade. A tecnologia utilizada pelas equipas de Fórmula 1 vai muito além dos 20 carros que competem pelo título de Campeão do Mundo. Na verdade, ter centenas de pessoas a trabalhar incansavelmente para produzir o motor mais eficiente de sempre traz vantagens para todos nós.
Fabricantes como a Ferrari, a Mercedes e a Renault que têm equipas de Fórmula 1 são das primeiras a implementar os avanços tecnológicos conseguidos pela pressão da competição, mas a verdade é que muitos dos avanços tecnológicos hoje em dia já massificados tiveram o seu começo na grid da Fórmula 1.
Equipas como a Ferrari e a Mercedes têm procedimentos implementados que garantem a transferência de conhecimentos entre as divisões de corrida e de estrada. Segundo Toto Wolff, Diretor Executivo da equipa de Fórmula 1 da Mercedes, “Um (bom) engenheiro (da divisão de carros de estrada da Mercedes), tem a oportunidade de mergulhar no mundo da F1 durante um ano. A F1 é uma organização muito menor e menos hierárquica. Isso permite que se ganhe uma vantagem diferente quando se mergulha de volta no mundo corporativo.” Também na Ferrari, Amedeo Visconti, Gestor de Transferência de Tecnologia diz que “Às vezes é planeado, outras vezes acontece por acaso. Com pessoas transfere-se conhecimento, mentalidade e relacionamentos.”
O grande desafio em transferir tecnologias de corrida para a estrada é que o orçamento disponível para aplicar estas tecnologias na F1 é muito diferente da realidade dos carros de estrada, quer estejamos a falar de um La Ferrari ou um Mercedes Classe A. Segundo Viscondi “As pessoas da equipa de corrida têm o know-how, mas precisam se adaptar aos modelos industriais, mesmo na Ferrari, que produz comparativamente poucos carros por dia”.
A McLaren com a utilização da Fibra de Carbono no chassis é um exemplo do sucesso desta troca de conhecimentos entre os departamentos de corrida e estrada. Além de ter marcado o primeiro triunfo da McLaren sob o comando de Ron Dennis, o GP da Grã-Bretanha de 1981 marcou também o início da era da Fibra de Carbono.
Utilizada em carros de estrada pela primeira vez no Mercedes SLR McLaren, a fibra de carbono é agora comum em carros de estrada desportivos.
Mais recentemente, a Fórmula 1 continua na vanguarda do desenvolvimento automóvel, tendo anunciado em 2019 que pretende ser Carbono Zero até 2030.
Na era V8, a eficiência térmica atingiu um pico de 29%. Com a introdução dos turbo-híbridos V6 em 2014, esse número saltou quase imediatamente para cerca de 40% - e está agora em mais de 50%, ou seja, estes motoroes tornaram-se 10% mais eficientes em seis anos. A Mercedes, por exemplo, usa tecnologia híbrida derivada do desenvolvimento do carro de F1 em todos os seus modelos híbridos.
As caixas com patilhas no volante desenvolvidas na F1 no final dos anos 80 e início dos anos 90 são, agora, omnipresentes em carros de estrada. Também o sistema KERS, introduzido em 2009 para aproveitar a energia de travagem e liberá-la na estrada, agora é usado não apenas em carros híbridos, mas também em autocarros, ajudando a tornar as cidades mais verdes.
Mas não é só no mundo automóvel que os progressos conseguidos na F1 são relevantes. Na área da saúde, por exemplo, hospitais utilizam os sistemas de dados da McLaren para monitorizar continuamente os pacientes nas enfermarias de cuidados intensivos - os sensores F1, por exemplo, foram colocados nos cotovelos dos cirurgiões enquanto eles operam, permitindo um feedback ultra específico.
Estes são só alguns dos inúmeros exemplos de como tecnologias desenvolvidas pelas equipas de F1 saíram da grid para o resto do mundo. Da próxima vez que vir uma corrida de Fórmula 1 tente imaginar qual será a próxima tecnologia a fazer parte das nossas vidas quotidianas.